quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Eleições 2010 - Dilma Rousseff

Bom depois de falar do "Zé" Serra, vamos agora relembrar e para muitos até saber o que ocorreu com a candidata do PT Dilma Rousseff:

Nascida em BH no dia 14 de dezembro de 1947, de família de classe média alta, filha do advogado e empreendedor búlggaro naturalizado brasileiro Pedro Roussef e da dona de casa Dilma Jane Silva.

Pedro Roussef trabalhou para a siderúrgica Mannesmann, além de construir e vender imóveis. A família vivia em uma casa espaçosa, servida por três empregadas, onde as refeições eram servidas à francesa. Os filhos tiveram uma formação clássica, tendo aulas de piano e francês.

Vencida a resistência inicial da sociedade local contra os estrangeiros, passaram a frequentar os clubes e as escolas mais tradicionais. Incentivada pelo pai, Dilma adquiriu cedo o gosto pela leitura. Falecido em 1962, Pedro Roussef deixou de herança por volta de 15 imóveis de valor.

De 1952 a 1954, cursou a pré-escola no colégio Isabela Hendrix e a partir de 1955 iniciou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora de Sion, em Belo Horizonte. Em 1964, prestou concurso e ingressou no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos), ingressando na primeira série do curso clássico (ensino médio). Nessa escola pública o movimento estudantil era ativo, especialmente por conta do recente golpe militar.

Ainda em 1964, ingressou na Política Operária - POLOP, uma organização fundada em 1961, oriunda do Partido Socialista Brasileiro, onde militou ao lado de José Aníbal. Seus militantes logo viram-se divididos em relação ao método a ser utilizado para a implantação do socialismo: enquanto alguns defendiam a luta pela convocação de uma assembléia constituinte, outros preferiam a luta armada.  Dilma ficou com o segundo grupo, que deu origem ao Comando de Libertação Nacional (COLINA).

Segundo companheiros de militância, Dilma teria desenvoltura e grande capacidade de liderança, conseguindo impor-se perante homens acostumados a mandar. Não teria participado diretamente das ações armadas, pois era conhecida por sua atuação pública, tendo contatos com sindicatos, dando aulas de marxismo e responsabilizando-se pelo jornal O Piquete. Apesar disso, aprendeu a lidar com armamentos e a enfrentar a polícia.

No início de 1969, o COLINA em Minas Gerais resumia-se a algumas dezenas de militantes, com pouco dinheiro e poucas armas. Suas ações haviam se resumido a quatro assaltos a bancos, alguns carros roubados e dois atentados a bomba, que não deixaram vítimas. Em 14 de janeiro, contudo, com a prisão de alguns militantes após um assalto a banco, outros reuniram-se para discutir como libertá-los. Ao amanhecer, foram surpreendidos com a ação da polícia na casa onde estavam e reagiram, usando uma metralhadora do grupo para matar dois policiais e ferir um terceiro.

Dilma e Galeno passaram a dormir cada noite em um local diferente, uma vez que o apartamento em que moravam era frequentado por um dos líderes da organização que fora preso. Tiveram que voltar ao apartamento escondidos para destruir documentos da organização. Ficaram ainda algumas semanas em Belo Horizonte, tentando reorganizar o que sobrara do grupo. 

Cientes que as casas de seus pais eram vigiadas (a família não conhecia o grau de envolvimento de Dilma com essas atividades), Galeno ainda teve que passar por uma mudança física, quando um retrato falado seu foi divulgado como sendo um dos participantes do assalto ao banco (o que ele nega). Em março, o apartamento foi invadido, mas nenhum documento interno da organização foi encontrado. Perseguidos na cidade, a organização ordenou que fossem para o Rio de Janeiro. Dilma tinha 21 anos e concluíra o segundo ano de Economia.

Era grande a quantidade de mineiros da organização no Rio (inclusive Fernando Pimentel, que tinha 18 anos quando a perseguição foi iniciada e recusou-se a seguir as ordens de seu pai de se entregar ao Exército, entrando na clandestinidade), não havendo infraestrutura para abrigar a todos. 

Dilma e Galeno ficaram um período na casa de uma tia de Dilma, que imaginava que o casal estava de férias. Mais tarde, ficaram num pequeno hotel e então num apartamento, até Galeno ser enviado pela organização a Porto Alegre. Dilma permaneceu no Rio, onde ajudava a organização, participando de reuniões e transportando armas e dinheiro. 

Nessas reuniões, conheceu o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, então com 31 anos, por quem se apaixonou e com quem viria a viver por cerca de 30 anos. Araújo era chefe da dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB, também conhecido como o "Partidão"), e abrigara Galeno em Porto Alegre. A separação de Galeno foi pacífica.

Araújo era filho de um renomado advogado trabalhista e havia começado cedo na militância, no PCB. Havia viajado pela América Latina (inclusive conhecendo Fidel Castro e Che Guevara) e já havia sido preso por alguns meses em 1964. Com a edição do AI-5, em 1968, ingressou na luta armada. 

No início de 1969, passou a tratar da fusão de seu grupo com o COLINA e a Vanguarda Popular Revolucionária - VPR, liderada por Carlos Lamarca. Dilma participou de algumas reuniões sobre essa fusão, que acabou formalizada em duas conferências em Mongaguá, dando origem a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares). 

Dilma e Araújo estiveram presentes, assim como Lamarca, que teria ficado com a impressão de que Dilma era "metida a intelectual". Ela teria defendido um trabalho político pelas bases, criticando a visão militarista que era a característica da VPR.

Carlos Araújo foi escolhido como um dos seis dirigentes da VAR Palmares, que se autointitulava "uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo".

Conforme Maurício Lopes Lima, um integrante de buscas da Oban (Operação Bandeirante), estrutura que integrava o serviço de inteligência das Forças Armadas (e onde teriam sido realizados atos de tortura), Dilma era a grande líder da organização clandestina VAR-Palmares. 

Usando vários codinomes, como Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda, teria recebido epítetos superlativos dos relatórios da repressão, definindo-a como "um dos cérebros" dos esquemas revolucionários. O delegado Newton Fernandes, que investigou a organização clandestina em São Paulo e traçou o perfil de dezenas de integrantes, afirma que Dilma era uma das molas mestras dos esquemas revolucionários. 

O promotor que denunciou a organização a chamou de "Joana d’Arc da subversão", tendo chefiado greves e assessorado assaltos a bancos. Dilma ridiculariza a comparação, ressaltando que lhe atribuem muitas ações, mas que não se lembra de nada.

Segundo Darcy Rodrigues, militante que foi o braço direito de Carlos Lamarca, Dilma fazia a ligação entre o comando nacional e os regionais.

Conforme divulgado pela Revista Veja, Dilma teria sido a organizadora, na época, do roubo de um cofre pertencente ao ex-governador de São paulo Ademar de Barros (considerado pela guerrilha como símbolo da corrupção) em junho de 1969, no Rio de Janeiro, de onde foram subtraídos 2,5 milhões de dólares. 

A ação veio a ser a mais espetacular e rendosa de toda a luta armada. Carlos Minc, que foi seu colega na organização clandestina VAR-Palmares e estava entre os militantes que invadiram a casa da suposta amante do ex-governador, nega a participação de Dilma, afirmando ainda que é exagerada a versão de que Dilma era a líder daquela organização, sendo à época uma participante sem nenhum destaque. Em pelo menos três ocasiões, Dilma também negou ter participado do evento.

Depoimentos e relatórios policiais indicavam que coube a Dilma administrar o dinheiro, pagando salários de militantes, encontrar abrigo ao grupo e comprar um Fusca. Dilma lembra apenas do automóvel, mas nega que tenha sido a responsável pela administração do dinheiro.

A VAR-Palmares teria também planejado em 1969 o sequestro de Delfim Neto, símbolo do milagre econômico e à época o civil mais poderoso do governo federal. O suposto sequestro, que deveria ocorrer em dezembro daquele ano, já havia sido referido no livro "Os Carbonários", de autoria de Alfredo Sirkis, em 1981. 

Antônio Roberto Espinosa, ex-comandante da Vanguarda Popular Revolucionária e da VAR-Palmares, reconheceu que coordenou o plano, que era de conhecimento de cinco membros da cúpula da organização, e que Dilma seria uma dessas integrantes da cúpula. O sequestro não teria chegado a ser realizado porque os membros do grupo começaram a ser capturados semanas antes. Dilma nega peremptoriamente que tivesse conhecimento do plano e duvida que alguém realmente se lembre, declarando que Espinosa fantasiou sobre o assunto.

Ao tomar conhecimento das declarações que lhe foram atribuídas, Espinosa contestou a informação, dizendo que nunca afirmara que Dilma teve conhecimento do plano, o que, se ocorreu, foi em termos rápidos e vagos. Afirmou que Dilma nunca participou de ações ou de planejamento de ações militares, sempre tendo uma militância somente política.
Mesmo com grande quantidade de dinheiro, a organização não conseguiu manter a unidade. Em um congresso em Teresópolis, entre agosto e setembro de 1969, houve uma grande divisão entre os militaristas, focados na luta armada, e os "basistas", que defendiam um trabalho de massas. Dilma estava com o segundo grupo. Enquanto os primeiros se agruparam na VPR militarista, liderados por Lamarca, Dilma ficou no segundo grupo, a VAR Palmares "basista". Houve disputa pelo dinheiro do grande assalto e pelas armas.

Após a divisão, Dilma foi enviada a São Paulo, onde esteve encarregada de manter em segurança as armas que couberam a seu grupo. Evitando mantê-las em apartamentos sem a segurança necessária, ela e uma amiga (Maria Celeste Martins, décadas mais tarde sua assessora na Casa Civil) mudaram-se para uma pensão simples na zona leste da cidade, com banheiro coletivo, escondendo o arsenal debaixo da cama.

Uma série de prisões de militantes conseguiu capturar José Olavo Leite Ribeiro, que encontrava-se três vezes por semana com Dilma. Conforme o relato de Ribeiro, após um dia de tortura, revelou o lugar onde se encontraria com outro militante, em um bar na Rua Augusta. Em 16 de janeiro de 1970, obrigado a ir ao local acompanhado de policiais disfarçados, seu colega também foi capturado e, quando já se preparavam para deixar o local, Dilma, que não estava sendo esperada, chegou. Percebendo que algo estava errado, Dilma tentou sair do local sem ser notada. Desconfiados, os policiais a abordaram e encontraram-na armada.

Foi levada para a operação Bandeirante (Oban), no mesmo local onde cinco anos depois Vladimir Herzog perderia a vida. Teria sido torturada por vinte e dois dias com palmatória, socos, pau-de-arara e choques elétricos. No meio militar, há quem veja o relato de Dilma com ironia e descrédito, especialmente quanto à possibilidade de alguém sobreviver a vinte e dois dias de tortura.

Posteriormente, Dilma denunciou as torturas em processos judiciais, inclusive dando nome de militares que participaram dos atos, como o capitão do Exército Benoni de Arruda Albernaz, referido por diversas outras pessoas. Ainda que tenha revelado o nome de alguns militantes, conseguiu preservar Carlos Araújo (que só viria a ser preso vários meses depois) e sua ajudante no recolhimento das armas, Maria Celeste Martins. Seu nome estava numa lista, encontrada na casa de Carlos Lamarca, com presos a que se daria prioridade para serem trocados por sequestrados, mas nunca foi trocada e cumpriu a pena regularmente.

Carlos Araújo foi preso em 12 de agosto de 1970. Durante o período em que Dilma esteve presa, Araújo teve um rápido romance com a atriz e simpatizante da organização Bete Mendes. Ao ser preso, encontrou com Dilma em algumas ocasiões, nos deslocamentos relativos aos processos militares que ambos respondiam. Ficaram alguns meses no mesmo presídio Tiradentes, em São Paulo, inclusive com visitas íntimas, onde se reconciliaram, planejando reatarem a vida conjugal após a prisão.

Em dezembro de 2006, a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro aprovou um pedido de indec\nização por parte de Dilma e outras dezoito pessoas presas em dependências de órgãos policiais do governo estadual paulista na década de 70.

Em seu processo, foi fundamental o depoimento de Vânia Abrantes, que esteve com ela na mesma viatura policial em uma viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro (Vânia era a companheira de Carlos Araújo quando ele e Dilma começaram seu relacionamento).

Pediu ainda indenização nos estados de São Paulo e Minas Gerais, pois além de ser presa em São Paulo, foi levada a interrogatório em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro. Também pediu indenização ao governo federal. Nos três estados, as indenizações, fixadas em lei, podem chegar somadas a 72 mil reais. Conforme a assessoria de Dilma, os pedidos tem um caráter simbólico, além do que teria solicitado que os processos só fossem julgados após seu afastamento dos cargos públicos.

No dia 5 de abril de 2009, o jornal Folha de São Paulo publicou, ao lado de uma reportagem sobre o suposto plano da VAR-Palmares para sequestrar o então ministro Antonio Delfim Netto, uma falsa ficha criminal de Dilma Rousseff, que o jornal alegou ter obtido junto ao arquivo do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Diante da contestação de Dilma, que apresentou inclusive perícias comprovando a fraude, o jornal admitiu que não obteve a ficha junto ao DOPS, mas via e-mail, declarando "não poder atestar sua veracidade".

Dilma foi condenada em primeira instância a seis anos de prisão. Já havia cumprido três quando o Superior Tribunal Militar reduziu sua condenação a dois anos e um mês. Teve também seus direitos políticos cassados por dezoito anos.

Dilma saiu do Presídio Tiradentes no fim de 1972, com 57 kg, dez quilos mais magra e com uma disfunção na tireóide. Havia sido condenada em alguns processos e absolvida em outros. Passou um período com sua família em Minas Gerais para se recuperar, ficou algum tempo com uma tia em São Paulo e depois mudou-se para Porto Alegre, onde Carlos Araújo cumpria os últimos meses de sua pena. 

Ficou na casa dos sogros, de onde se avistava o presídio onde estava Araújo. Dilma o visitava com frequência, levando jornais e até livros políticos, disfarçados de romances. Desativado o Presídio da ilha das Pedras Brancas, Araújo cumpriu o restante da pena no Presídio Central. O prestigiado advogado Afrânio Araújo, pai de Carlos, faleceu em junho de 1974, o que levou amigos juristas a pressionarem a solução para a prisão de Carlos, que acabou libertado uma semana depois.
Punida por subversão de acordo com o decreto-lei 477, considerado o AI-5 das universidades, havia sido expulsa da Universidade Federal de Minas Gerais e impedida de retomar seus estudos naquela universidade em 1973, o que fez Dilma prestar vestibular para Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graduou-se em 1977, não tendo participado ativamente do movimento estudantil. 

No ano anterior, em março, nasceu sua única filha, Paula Rousseff Araújo. Sua primeira atividade remunerada após sair da prisão foi de estagiária na Fundação de Economia e Estatística - FEE, vinculada ao governo do Rio Grande do Sul.

A militância política, desta vez dentro da legalidade, foi reiniciada no Instituto de Estudos Políticos e Sociais (IEPES), ligado ao único partido legalizado de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Mesmo não tendo se filiado ao partido, Dilma organizava debates no instituto, que recebia palestras de intelectuais como Francisco de  Oliveira, Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort. 

Em 1976, Araújo e Dilma trabalharam na campanha a vereador  de Glênio Peres, pelo MDB. Embora eleito, Peres foi cassado por denunciar torturas em um discurso. Em novembro de 1977, o nome de Dilma foi divulgado no jornal  O Estado de São Paulo como sendo um dos 97 subversivos infiltrados na máquina pública. 

A relação havia sido elaborada pelo Ministro do Exército demissionário, Sílvio Frota, que havia resumido os antecedentes políticos dos listados. Dilma, qualificada como militante da VAR Palmares e do COLINA e "amasiada com o subversivo" Carlos Araújo, foi exonerada da FEE, sendo anistiada mais tarde.

A partir de 1978, Dilma passou a frequentar a Universidade Estadual de Campinas, com a intenção de cursar mestrado. Nessa época, participava de um grupo de discussão em São Paulo com outros ex-integrantes da VAR Palmares, dentre os quais Rui Falcão, Antonio Roberto Espinosa, seu companheiro de prisão e, eventualmente, Carlos Araújo. 

Com reuniões trimestrais, o grupo durou cerca de dois anos, lendo obras de Marx, Poulantzas e Althusser, discutindo o melhor momento de retomar a atividade política. Sobre a polêmica a respeito de sua titulação, Dilma declarou que "Fiz o curso de mestrado, mas não o concluí e não fiz dissertação. Foi por isso que voltei à universidade para fazer o doutorado. E aí eu virei ministra e não concluí o doutorado." A universidade informa que ela nunca se matriculou oficialmente no mestrado.

Com o fim do bipartidarismo, participou junto com Carlos Araújo dos esforços de Leonel Brizola para a recriação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após a perda da sigla para o grupo de Ivete Vargas, participou da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Araújo foi eleito deputado estadual em 1982, 1986 e 1990. Foi também duas vezes candidato a prefeito de Porto Alegre, perdendo para os petistas Olívio Dutra, em 1988, e Tarso Genro, em 1992. Dilma conseguiu seu segundo emprego na primeira metade dos anos 1980 como assessora da bancada do PDT na assembléia legislativa do Rio Grande do Sul.
 
Araújo e Dilma dedicaram-se com afinco na campanha de Alceu Collares à prefeitura de Porto Alegre, em 1985, sendo que em sua casa foi preparada grande parte da campanha e do programa de governo. Eleito prefeito, Collares a nomeou titular da Secretaria Municipal da Fazenda, seu primeiro cargo executivo. Collares reconhece a influência de Araújo na indicação, mas ressalta que também contribuiu a competência de Dilma.

Na campanha do pedetista Aldo Pinto para o governo do estado em 1986, Dilma foi uma grande assessora. O candidato a vice na chapa era Nelzon Marchezan, um dos mais destacados civis apoiadores da ditadura militar. Ainda que tenham sido amplamente derrotados pelo candidato do PMDB, Pedro Simon, vinte anos depois Dilma ainda justifica a polêmica aliança: "Marchezan foi líder da ditadura, mas nunca foi um 'enragé'. A ala Marchezan era a ala da pequena propriedade radicalizada. E ele era um cara ético.

Dilma permaneceu à frente da Secretaria da Fazenda até 1988, quando se afastou para se dedicar à campanha de Araújo à prefeitura de Porto Alegre. Foi substituída por Políbio Braga, que conta que Dilma tentara convencê-lo a não assumir o cargo, aconselhando-o: "Não assume não, que isso pode manchar a tua biografia. Eu não consigo controlar esses loucos e estou saindo antes que manche a minha." Enquanto Collares lembra da gestão de Dilma como exemplo de competência e transparência, Políbio Braga discorda, lembrando que "ela não deixou sequer um relatório, e a secretaria era um caos."

A derrota de Araújo na candidatura a prefeito alijou o PDT dos cargos executivos. Em 1989, contudo, Dilma foi nomeada diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, mas acabou demitida do cargo pelo presidente da casa, vereador Valdir Fraga, porque chegava tarde ao trabalho. Conforme Fraga, "eu a exonerei porque houve um problema com o relógio de ponto."

Em 1990, Alceu Collares foi eleito governador, indicando Dilma para presidente da Fundação de Economia e Estatística, onde ela estagiara na década de 1970. Permaneceu ali até fim de 1993, quando foi nomeada Secretária de Energia, Minas e Comunicações, sustentada pela influência de Carlos Araújo e seu grupo político.

Permaneceu no cargo até final de 1994, época em que seu relacionamento com Araújo chegou ao fim, abalado pela descoberta da gravidez da mãe de Rodrigo, nascido em 1995. Depois reconciliaram-se e permaneceram juntos até 2000, quando Dilma foi morar só em um apartamento alugado.

Em 1995, terminado o mandato de Alceu Collares, Dilma afastou-se dos cargos políticos e retornou à FEE, onde foi editora da revista Indicadores Econômicos. Foi nesse intervalo que matriculou-se oficialmente no curso de doutorado da Unicamp, em 1998.

Em 1998, o petista Olívio Dutra ganhou as eleições para o governo gaúcho com o apoio do PDT no segundo turno, e Dilma retornou à Secretaria de Minas e Energia. Conforme Olívio, "Eu já a conhecia e respeitava. E a nomeei também porque ela estava numa posição mais à esquerda no PDT, menos populista".

O PDT ganhara alguns cargos no primeiro escalão, mas Leonel Brizola entendia que seu partido tinha muito pouco espaço no governo, administrando uma parcela ínfima do orçamento. Não conseguindo mais espaço, os pedetistas foram pressionados a entregar seus cargos. A composição da chapa para a prefeitura de Porto Alegre nas eleições de 2000 também acentuou a briga entre os dois partidos, onde o PDT indicava Alceu Collares e o PT, Tarso Genro.

Dilma defendeu a manutenção da aliança que elegera Olívio Dutra, passando a apoiar a candidatura de Tarso Genro, alegando que não aceitava "alianças neoliberais e de direita", mesmo tendo defendido a aliança com Marchezan, homem da ditadura militar, na eleição de 1986. Tarso Genro venceu Alceu Collares no segundo turno e Dilma filiou-se ao PT. Brizola acusou todos os que deixaram o partido de traidores.

Na sua gestão na Secretaria de Minas e Energia do governo Olívio Dutra, a capacidade de atendimento do setor elétrico aumentou 46%,, devido a um programa emergencial de obras onde participaram estatais e empresas privadas. Em janeiro de 1999, Dilma viaja a Brasília e alerta as autoridades do setor elétrico de que, se não forem feitos investimentos em geração e transmissão de energia, os cortes que o Rio Grande do Sul enfrentou no início de sua gestão seriam verificados no resto do país.

Na crise do apagão elétrico no final do governo FHC, os três estados da Região Sul não foram atingidos, não sendo imposto qualquer racionamento, pois não houve estiagem na região. Mesmo assim, houve economia voluntária de energia e Dilma tentou obter uma compensação, como era concedido nas demais regiões. 

O governo federal não cedeu e Dilma conseguiu contemporizar junto à iniciativa privada gaúcha. Conforme Pedro Parente, chefe da Casa Civil no  governo FHC, "Ela era pragmática, objetiva e demonstrou que tinha um diálogo fluido com o setor empresarial."

Os assuntos relacionados à área de minas e energia na plataforma do candidato Lula eram discutidos em reuniões coordenadas pelo físico e engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa. Outro destaque do grupo era Ildo Sauer, sendo ambos totalmente contrários privatizações  no setor, que em sua visão eram as responsáveis pelos problemas energéticos que o país passava. 

Dilma foi convidada por Pinguelli a participar do grupo em junho de 2001, onde chegou tímida para integrar uma equipe com vários professores, mas logo se sobressaiu com sua objetividade e bom conhecimento do setor. Para todos no grupo, contudo, era evidente que Pinguelli seria o ministro de Minas e Energia, caso Lula vencesse a eleição em 2002.

Foi grande a surpresa quando Lula, eleito, escolheu Dilma para titular da pasta. Segundo declarou: "Já próximo de 2002, aparece por lá uma companheira com um computadorzinho na mão. Começamos a discutir e percebi que ela tinha um diferencial dos demais que estavam ali porque ela vinha com a praticidade do exercício da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Aí eu fiquei pensando: acho que já encontrei a minha ministra aqui."

Teria pesado muito a simpatia que Antonio Palocci nutria por Dilma, reconhecendo que teria trânsito muito mais fácil junto ao setor privado do que Pinguelli, além de ter apoiado a Carta aos Brasileiros, concordando com as mudanças no partido. Olívio Dutra diz que também foi consultado e elogiou os méritos técnicos de sua secretária de Minas e Energia. "Posso ter pesado um pouco na balança naquele momento, mas, da transição para frente, o mérito é todo da Dilma." Já ministra, aproximou-se muito de José Dirceu, então chefe da Casa Civil.

Sua gestão no ministério foi marcada pelo respeito aos contratos da gestão anterior, pelos esforços em evitar um novo apagão e pela implantação de um modelo elétrico menos concentrado nas mãos do Estado, diferentemente do que queriam Luiz Pinguelli Rosa e Ildo Sauer. Quanto ao mercado livre de energia, Dilma não só o manteve como o ampliou. José Luiz Alquéres, presidente da Light, elogia o modelo implantado por Dilma, que está ajudando o segmento, criticando apenas a demora, que na sua visão é culpa da máquina governamental.

Convicta de que investimentos urgentes em geração de energia elétrica deveriam ser feitos para que o país não sofresse um apagão já em 2009, Dilma travou sério embate com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que defendia o embargo a várias obras, preocupada com o desequilíbrio ecológico que poderiam causar. José Dirceu, à época ministro-chefe da Casa Civil, teve que criar uma equipe de mediadores entre as ministras para tentar resolver as disputas.
 
Amigo de Lula, Pinguelli foi nomeado presidente da Eletrobrás e protagonizou grandes divergências com a ministra, chegando a colocar o cargo à disposição. Ironizava as oscilações de humor de Dilma: "Essa moça formata o disquete a cada semana." Pinguelli por fim deixou o governo.

Mauricio Tolmasquim, que na equipe de transição tinha uma visão do setor mais próxima a de Dilma, foi convidado por ela para ser o secretário-executivo do ministério. Declarou que à medida que foram se conhecendo melhor, Dilma passou a gritar de vez em quando com ele: "É o jeito dela. Não é pessoal. E em cinco minutos fica tudo bem.

Ildo Sauer também se desentendeu com a ministra, que rechaçara suas ideias sobre um modelo estatizante. Tendo assumido a direção de gás e energia da Petrobrás, divergiu, assim como o presidente da empresa, Sergio Gabrielli, várias vezes da ministra, sendo necessário até mesmo a intervenção de Lula. Sauer deixou a empresa em 2007. Outro que teve desentendimentos com a ministra sobre questões de energia foi o ex- deputado federal Luciano Zica. Para ele, "a Dilma é a pessoa mais democrática do mundo, desde que se concorde 100% com ela."

Ao assumir o ministério, Dilma defendeu uma nova política industrial para o governo, fazendo com que as compras de plataformas pela Petrobras tivessem um conteúdo nacional mínimo, que poderiam gerar 30 mil novos empregos no país. Argumentou que não era possível que uma obra de 1 bilhão de reais não fosse feita no Brasil. As licitações para as plataformas P-51 e P-52 foram, então, as primeiras no país a exigirem um conteúdo nacional mínimo. 

 Houve críticas à exigência, sob o fundamento de que isso aumentaria os custos da Petrobrás, mas Dilma defendeu a capacidade do país de produzir navios e plataformas, afirmando que a nacionalização, que variava entre 15 e 18% passou a ser de mais de 60%. 

Lula reconheceu que, visto apenas sob a ótica da empresa, o custo foi maior, mas não se deveria mirar apenas o custo imediato, mas o fortalecimento da ciência e tecnologia nacionais. Em 2008, a indústria naval passou a empregar 40 mil pessoas, em comparação às 500 pessoas empregadas em meados da década de 1990, fato que seria decorrente da exigência de nacionalização, levando a indústria naval à condição de sexta maior do mundo em 2009.

Dilma propôs acelerar as metas de universalização do acesso à energia elétrica, que tinha como prazo final 2015, propondo que 1,4 milhões de domicílios rurais fossem iluminados até 2006. Argumentou que a universalização era uma meta de inclusão social, devendo fazer parte de programas como o Fome Zero, não sendo possível supor que seja um programa que dê retorno financeiro.

No governo anterior, havia sido lançado o programa "Luz no Campo", com o objetivo de incentivar o agronegócio e prevendo o custeio pelo beneficiário, sendo que o programa governamental propunha-se a financiar o custo. A meta daquele programa era atender um milhão de famílias, mas até o início de 2003 pouco mais da metade haviam sido atendidas.

Conforme Dilma, o programa anterior só obteve resultados nos estados onde os governos locais subsidiaram a população. Defendeu, então, um programa altamente subsidiado pelo governo, que não deveria apenas financiar, mas custear a universalização. O subsidio, por outro lado, deveria ser para o consumidor final, não para as empresas.

O programa foi lançado em novembro de 2003, com o nome " Luz Para Todos", concentrado em beneficiar regiões de baixo índice de desenvolvimento humano e famílias com renda até três salários mínimos. A meta do programa era atender até 2008 dois milhões de famílias.  

Em abril de 2008, o governo ampliou o programa, prevendo-o até 2010, para beneficiar outros 1,17 milhões de famílias. Em outubro de 2008, Dilma reconheceu que o governo não conseguiria cumprir a meta a tempo, restando 100 mil famílias para serem atendidas em 2009. A região Nordeste concentrou 49% das ligações do programa, que representou, de janeiro de 2005 a maio de 2008, 37,8% de todas as novas ligações elétricas na região, fazendo com que o Nordeste pela primeira vez ultrapassasse a Região Sul no consumo de energia elétrica.

Como ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef tinha o apoio de dois dos principais ministros do governo Lula: Antonio Palocci e José Dirceu. Quando Dirceu saiu do ministério devido ao escândalo do mensalão, ao invés de ficar enfraquecida, Lula surpreendeu escolhendo Dilma para a chefia da Casa Civil. Para Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente, Dilma chamou a atenção de Lula pela coragem de encarar situações difíceis e pela capacidade técnica. 

Franklin Martins, outro guerrilheiro que virou ministro, afirmou que Lula teria ficado bem impressionado com a gestão de Dilma nas Minas e Energia, evitando outro apagão: "Lula percebeu que ela fazia as coisas andarem." Também evitaria a disputa entre Palocci e Dirceu para sucedê-lo, já que Dilma não tinha essa ambição, era nova no partido e, por não pertencer a nenhuma ala, transitava por todas. Dilma revelou a Gilberto Carvalho que a indicação para a Casa Civil foi uma surpresa muito maior do que quando fora indicada para a pasta de Minas e Energia. De acordo com o senador Pedro Simon (PMDB-RS), desde que Dilma assumiu o ministério, "a seriedade está se impondo" na Casa Civil.

O Consulado dos Estados Unidos em São Paulo encaminhou ao Departamento de Estado, logo após a posse de Dilma na Casa Civil, um dossiê traçando seu perfil detalhado, falando de seu passado como guerrilheira, gostos e hábitos pessoais e características profissionais, sendo descrita como técnica prestigiada e detalhista, com fama de workaholic e com grande capacidade de ouvir, mas com falta de tato político, dirigindo-se às vezes, conforme relatos de um assessor graduado, diretamente aos técnicos ao invés de seus superiores.

Dilma Rousseff é considerada pelo governo a gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula também a chamou de "mãe" do PAC, designando-a responsável pelo programa em todo o país e informando que a população deve cobrar dela o andamento das obras. Quanto ao ritmo das obras, Dilma alegou que o país não tem o elevado grau de eficiência da Suiça, mas tem conseguido acelerar os maiores projetos.

Sua candidatura foi oficializada em 13 de junho de 2010, em convenção nacional do Partido dos Trabalhadores realizada em Brasília-DF. Foi também referendado o nome do atual presidente da Cãmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP) como seu vice. Participaram da mesa, entre outros, o ex-ministro José Dirceu, o líder do PT na Câmara,Fernando Ferro (PE), e o secretário-geral da legenda, José Eduardo Cardozo.

Considerada dona de um temperamento explosivo, é acusada por parte da imprensa de ter destratado colegas de sua pasta, nomeadamente o ministro Paulo Bernardo, na frente dos governadores tucanos José Serra e Aécio Neves . É acusada de "ter feito chorar" o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, depois de uma reprimenda via telefone. Segundo o jornal O Globo, o secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Luiz Antonio Eira, teria pedido demissão devido a um desentendimento c om ela, em que teria se sentido humilhado; Dilma, porém, nega que o tenha destratado.

As supostas atitudes agressivas de Dilma, porém, garantiriam seu prestígio diante de Lula, que pondera que seu comportamento mais ajuda do que atrapalha: seu temperamento se convertia na eficiência para resolver problemas sem soluções, inclusive alguns vindos da gestão de José Dirceu.

O vice-presidente da República, José Alencar, considera o temperamento da ministra "dedicado" e "sério", assim como "bravo". Para ele, o eleitor veria nesse temperamento qualidades "exepcionais" para o comando do país.

Sobre seu temperamento, Dilma afirma: "O difícil não é meu temperamento, mas minha função". Eu tenho de resolver problemas e conflitos. Não tenho descanso. Não sou criticada porque sou dura, mas porque sou mulher. Sou uma mulher dura cercada por ministros meigos"

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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